Hoje vamos falar sobre o medo de não conseguir conciliar maternidade e carreira citado por 73% das respondentes entre mulheres com desejo de engravidar, durante a gestação, retornando de licença .
Seguimos dando continuidade as nossas reflexões sobre os dados da Pesquisa Maternativa que levantou os medos e desafios das mulheres em relação a maternidade e o mercado de trabalho.
Pensar em como um filho irá impactar sua carreira faz parte da vida de toda mulher desde o momento que ela decide engravidar ou é surpreendida por uma gestação não planejada.
Para uma mulher ativa profissionalmente, com ambições e intensão de se desenvolver na carreira e que tem uma jornada padrão de trabalho (aproximadamente de 12h , considerando deslocamento do trabalho) incluir os cuidados de um filho nessa rotina e no planejamento da carreira é um dos momentos mais tensos e que despertam muito receios e medos.
Uma questão biológica que deveria ser simples e muito mais reconhecida socialmente, a chegada dos filhos, tem sido apontada como um grande degrau quebrado na carreira das mulheres e uma das razões pelas quais as mulheres não estão subindo ao topo e alcançando posições de liderança nas empresas onde atuam.
Quando escutamos as mães em relação ao trabalho nas pesquisas que realizamos e em nossa comunidade é possível encontrar facilmente mulheres altamente qualificadas e com filhos que deixam o trabalho ou fazem uma pausa por longos períodos de tempo.
É possível recolher facilmente centenas de relatos de mães que retornaram de licença, depois de apenas 4 meses, e contam as terríveis experiências de retorno.
Empresas, gestores e colegas incapazes de exercitar a empatia e sem nenhum plano de acolhimento dessas mães.
O resultado são mães se sentindo culpadas, tristes, privadas de sono e que começam a se perguntar o que estão fazendo naquele trabalho enquanto seus bebês de apenas 4 meses estão em casa.
Quando a mãe que encontra essa situação tem condições financeiras e um boa formação elas reavaliam suas carreiras e muitas deixam temporariamente ou definitivamente o mercado corporativo. Já as mães que não podem tomar essa decisão por conta de sua condição financeira se esforçam para enfrentar todas essas micro agressões e desenvolvem altos níveis de estresse.
Voltamos a um ponto comum aqui . Ou as empresas mudam ou vão passar longos períodos tentando implementar suas metas de diversidade e igualdade de gênero.
A Flexibilidade, licenças maternidade de ao menos 6 meses e o desejo real de acolhimento estão no topo dos desejos das mulheres em relação ao mercado de trabalho.
A verdade é que nos dias atuais a boa conciliação entre a vida pessoal, trabalho e família faz parte dos desejos de grande parte dos novos trabalhadores e a avaliação da cultura da empresa em relação a esse tema defini de perto a atração e retenção de talentos.
Essa reflexão já é tema da academia, faz parte do debate e do diálogo social recorrente e precisa estar em pauta no Estado e na gestão empresarial.
Quando avaliamos a atuação da esmagadora maioria das empresas a realidade é que elas ainda enfrenta, vários desafios no gerenciamento de questões relacionadas à gravidez e retorno ao trabalho de suas colaboradoras , incluindo:
- Confusão e incerteza sobre suas obrigações legais e sobre os direitos dos funcionários;
- Confusão ao gerenciar os prazos e o acolhimento no retorno das funcionárias ao trabalho;
- Dificuldades em registras e avaliar e mesmo desenvolver políticas que atendam às solicitações dos funcionárias para trabalhar de forma flexível ou em meio período;
- Encontrar espaço e trabalhar recursos limitados para arcar com os custos diretos associados ao treinamento de um funcionário de substituição temporária;
- Acomodar as necessidades específicas de funcionárias grávidas e funcionárias que retornam da licença parental e garantir um ambiente de trabalho seguro.
- Alterar a cultura que mantem estereótipos , atitudes e comportamentos negativos entre gerentes, colegas sobre funcionárias grávidas ou voltando ao trabalho após licença.
- Pequenas empresas podem enfrentar problemas específicos, que vão desde falta de recursos e capacidade para gerenciar os colaboradores com filhos que trabalham, além de restrições financeiras e dificuldades em gerenciar a licença ou transferir uma funcionária para um emprego mais seguro.
É essencial que as empresas tenham um entendimento preciso e detalhado de suas responsabilidades legais e direitos dos empregados e que considerem esse entendimento como primordial para investirem recursos de capacitação e treinamento tanto de suas equipes de RH quanto de gestores de times.
A discriminação contra as mulheres em relação à maternidade é um problema generalizado em todo o mundo. Onde a legislação existe, garantir que seja efetivamente implementado continua sendo um desafio persistente. Por essa razão o Estado precisa melhorar e muito a lacuna de falta de informações claras e facilmente acessíveis. Precisa elaborar guias com o passo a passo e ter um canal específico para que empregadores e cidadãos possam obter informações sobre direitos e responsabilidades relacionados à gravidez, licença maternidade, paternidade e retorno ao trabalho.
A maternidade, o cuidados com a saúde e com a segurança das mães e bebês está no centro da própria existência humana.
As empresas que pretendem agir em direção a igualdade de gênero no trabalho ampliando a participação das mulheres e aumentar sua participação em cargos de liderança precisará tratar a proteção da maternidade como direito fundamental do trabalho e tratado como princípio de direitos humanos.
Olhando para todas essas dificuldades encontradas pelos empregadores e as lacunas deixadas pelo Estado em relação a informação sobre a proteção da Maternidade em relação ao trabalho e acompanhamento do cumprimento da legislação não é difícil entender porque grande parte das mulheres sentem medo ao pensar em como irão conciliar maternidade e trabalho.
Seguimos trabalhando para trazer luz a questão e provocar reflexões que nos levem para uma direção onde as transformações reais poderão acontecer.