É comum associarmos a solidão a pessoas que vivem sozinhas mas existe uma outra forma de solidão comum entre aqueles que escolheram não viver sozinhos. Nessa conversa gostaríamos de falar sobre a solidão das mães que são as principais encarregadas do dever de cuidar dos filhos.
A solidão materna pode despertar estranhamento e pode ser uma grande surpresa, inclusive para muitas mães, que embora estejam conectadas com seus filhos vivem uma desconexão com todas as outras áreas da vida.
Muitas mães têm dificuldade de reconhecer essa solidão embora a grande maioria delas vá experimentar esse sentimento em algum momento da sua maternidade.
Durante a gravidez, a solidão pode vir para mães que são as primeiras entre as amigas a experimentarem a gestação. Também pode acontecer em relação ao trabalho quando não sentem que sua gravidezes é bem vista pela empresa, chefes e colegas de trabalho. Também pode acontecer quando a gravidez não é bem recebida pela família e companheirxs ou quando é uma gravidez não planejada.
Durante a licença maternidade e nos primeiros meses do bebê a solidão pode aparecer quando uma mãe está hiper conectada com seu bebê ( o que é esperado e absolutamente normal) e ela passa longas horas com a criança porque uma grande conexão está sendo construída, mas do outro lado falta a interação com outros adultos que compreendam sua jornada. Falta diálogo, conversa.
A desconexão pode acontecer muitas vezes com seus próprios parceirxs, quando esses não se envolvem igualmente no cuidado das crianças. Também frequentemente acontece em relação ao trabalho quando nasce o sentimento de medo da perda do trabalho, ou da falta de apoio oferecido pela empresa, chefes e colegas.
Ocorre também em relação a família, quando essa não oferece apoio ou com amigos que se afastam por não sentirem que aquela mãe irá manter sua participação social ativa como antes.
É importante dizer que aqui não estamos falando a respeito de depressão pós parto ou baby blues; estamos falando a respeito de uma desorientação não prolongada e uma experiência onde a mãe experimenta uma desconexão de si mesma causada por uma grande transformação.
Muitas mulheres experimentam uma grande mudança de identidade com a chegada dos filhos. Uma mudança entre o ser eu e o novo ser materno.
Quando uma mãe está experimentando a profunda conexão com o seu bebê, uma grande alteração no corpo, na mente, no casamento, na carreira está em andamento. A mãe nesse momento enfrenta a luta da perda do antigo eu e se prepara para um renascimento, e vai demandar um reconhecimento de si mesma nessa nova identidade.
A maternidade torna mulher extremamente importante dentro do universo particular da casa e dos filhos e ao mesmo tempo a transforma em uma pessoa publicamente invisível e ser invisível é extremamente solitário.
A solidão materna pode ter alguns caminhos e soluções e esses caminhos normalmente envolvem encontrar com outras mulheres que passam pelo mesmo processo, uma vez que compartilhar uma experiência tão única com pessoas que não passaram por ela é mais desafiador.
Parte da solução envolve uma consciência mais coletiva por parte de todos que a cercam.
Companheirxs precisam estar disponíveis e precisam buscar se conectar com essa mãe e aprender sobre esse processo.
Familiares precisam dar espaço mas também precisam perceber como é importante o acolhimento do novo integrante da família.
Empresas e empregadores precisam se perceber como parte da rede apoio e se responsabilizar pelo correto acolhimento dessa mãe.
Se a sociedade pode mudar essa mudança só virá pelo caminho de mais empatia, mais responsabilidade por parte de todos que precisam reconhecer essa mulher como uma importante agente da sociedade.
Cuidar de quem cuida é com certeza um dos maiores desafios que enfrentamos na construção de uma humanidade mais igual, mais justa, mais inclusiva e mais amorosa.
A solidão materna poderá ser vivida como uma fase transformadora e positiva se ela for enfrentada não só pela mãe mas todos nós!